O engenheiro agrônomo, geneticista e biólogo Warwick Kerr é considerado o maior especialista em genética de abelhas do mundo.
A apicultura, criação racional das abelhas Apis mellifera, é uma atividade que propicia ganhos econômicos e contribui para a manutenção e preservação do meio ambiente. Essa espécie de abelha é originária da Europa, ásia e África e pode ser encontrada nas savanas, florestas tropicais, desertos, regiões litorâneas e montanhosas. A grande variedade de clima e vegetação do habitat original da espécie contribuiu para a evolução de diversas subespécies ou raças de abelhas A. mellifera, com diferentes características e adaptadas a diversas condições ambientais.
No Brasil, as primeiras colônias de A. mellifera foram introduzidas a partir de 1840, oriundas da Espanha, Portugal, Alemanha e Itália. As primeiras subespécies criadas no País foram: A. mellifera mellifera (abelha preta ou alemã), A. mellifera carnica, A. mellifera caucasica e A. mellifera ligustica (abelhas italianas). Naquele tempo, a apicultura era uma atividade rústica e o objetivo principal da maioria dos produtores era atender às próprias necessidades de consumo.
Em 1950, a apicultura brasileira sofreu grandes perdas em função do surgimento de doenças e pragas. Estima-se que 80% das colônias tenham sido dizimadas, gerando queda drástica na produção. Com o objetivo de aumentar a resistência às doenças das abelhas no País, em 1956 o professor Warwick Estevam Kerr, com apoio do Ministério da Agricultura, dirigiu-se à África para selecionar colônias de abelhas africanas A. mellifera scutellata que fossem produtivas e resistentes a doenças. As rainhas foram introduzidas no apiário experimental de Rio Claro, Brasil, para serem testadas e comparadas com as abelhas italianas e pretas. Entretanto, um incidente contribuiu para que 26 colônias de abelhas africanas enxameassem 45 dias após a introdução.
As abelhas africanas encontraram no Brasil condições de clima e vegetação excelentes para se propagarem e cruzarem com as abelhas européias, que haviam sido introduzidas anteriormente. Assim, a liberação dessas abelhas muito produtivas, porém muito agressivas, criou um novo híbrido, as abelhas africanizadas.
A agressividade na competição por alimento, grande capacidade de enxameação e a facilidade de adaptação a diversos climas e ambientes, possibilitaram a expansão da abelha africanizada por todo o Brasil e diversos países do continente americano. Pesquisas realizadas por professores da Universidade de São Paulo (USP) indicam que a velocidade de dispersão desse inseto é de 320 Km/ano.
O comportamento defensivo, entretanto, gerou dificuldades para o Brasil. Os problemas ocasionados pelos ataques das abelhas seguidos de mortes de pessoas e animais chegaram aos noticiários internacionais. As "abelhas assassinas" ou "abelhas brasileiras", como ficaram conhecidas, geraram verdadeiro pavor por todo o mundo e passaram a ser tratadas como praga. Diversos países do continente Americano tentaram, inutilmente, criar barreiras que impedissem o avanço das abelhas africanizadas.
Apesar desses problemas iniciais, as abelhas africanizadas forçaram a modernização da apicultura no Brasil. O investimento em pesquisas, criação e adaptação de tecnologias e capacitação auxiliaram na melhoria e profissionalização da atividade. O Brasil é atualmente exportador de mel, cera e própolis e a maior resistência das abelhas africanizadas às pragas e doenças permite que a atividade seja conduzida sem aplicação de medicamentos, facilitando a produção de mel orgânico. Embora a africanização das abelhas ainda encontre alguma resistência por parte de apicultores, não há como negar os benefícios que o incidente ocorrido há pouco mais de 50 anos trouxe para a atividade apícola brasileira.
AUTORIA
Fábia de Mello Pereira
Maria Teresa do Rêgo Lopes
Pesquisadoras da Embrapa Meio-Norte
E-mails: fabia@cpamn.embrapa.br e mteresa@cpamn.embrapa.br
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