O ano de 2011 começou bem para os agricultores familiares de algodão agroecológico do Oeste Potiguar. Em janeiro, a equipe da France 5, televisão pública francesa, esteve no Brasil para conhecer essa experiência de produção agroecológica de sucesso e fazer uma reportagem sobre o assunto. A iniciativa escolhida é resultado de uma parceria entre famílias de agricultores dos municípios de Umarizal, Caraúbas, Apodi e Antônio Martins e a empresa francesa Tudo Bom?.
Embora o reconhecimento esteja acontecendo agora, o trabalho começou em 2002, quando agricultores parceiros da Diaconia implantaram uma Unidade Demonstrativa (UD) de algodão agroecológico, consorciado com duas culturas, milho e gergelim. A iniciativa partiu de um intercâmbio que o grupo participou no município de Tauá, no Ceará. Na localidade, era realizada uma experiência de plantio de algodão agroecológico, consorciado a diversas culturas, tais como gergelim, milho, amendoim e outras. O tímido resultado da experiência com a UD do algodão agroecológico deu um resultado positivo e foi vendido para o comércio local.
Em 2007, 60 famílias envolvidas no projeto de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), apoiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), cultivaram o algodão agroecológico consorciado. Porém, naquele ano, algumas famílias não obtiveram um bom resultado em virtude do excesso e, em alguns casos, da falta de chuva. Ao final de 2007, 25 famílias colheram grande parte da produção e realizaram a primeira venda para o comércio exterior, através da Empresa Francesa de Comércio Justo – Envão. Além de firmar uma relação de compra e venda mais forte, com essa venda os produtores conseguiram estabelecer uma relação comercial direta com o comprador, acabando com os atravessadores.
Em 2008, os agricultores e agricultoras se lançaram em mais um desafio para a valorização do seu produto: conquistar o selo de Certificação Orgânica Nacional e Internacional. Esse desafio foi superado em 2009 e, desde então, os agricultores certificados mantêm relações comerciais com as empresas de comércio justo, sendo elas a Envão e a Tudo Bom?.
Hoje essas famílias integram a Rede de Produtores de Algodão Agroecológico do Nordeste, onde participam os estados do Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí, caminham para a organização da sua produção de algodão agroecológico e acesso ao mercado justo internacional.
“As famílias estão vivendo um processo de amadurecimento na organização da sua produção. O valor que o produto tem no comércio justo, tem sido importante para estimulá-las no cultivo. Outro ponto positivo é que elas estão com a autoestima bastante elevada, em virtude de poderem resgatar a cultura do algodão, considerado o “ouro branco” do agricultor, antes abandonado por causa da praga do bicudo. Para o futuro há a expectativa quanto à sustentabilidade do grupo, objetivo a ser perseguido”, afirma Hesteolivia Shyrlley, técnica da Diaconia.
A produção fortalece a agricultura familiar e possibilita que as famílias envolvidas possam aumentar a sua renda com um produto livre de agrotóxicos e sustentável. Além disso, busca-se a comercialização dos outros produtos envolvidos no consórcio.
A Diaconia, organização que presta assistência aos produtores, considera que essa visita da televisão francesa foi muito importante para o fortalecimento desse trabalho feito pelos agricultores. “Acredito que esse processo de visibilização do trabalho com algodão agroecológico só demonstra, cada vez mais, a importância da agricultura familiar e seu importante papel na economia e na segurança alimentar de um país”, Joseílton Evangelista, Coordenador de Comunicação e Mobilização de Recursos da Diaconia.
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