O reajuste médio de 19,4% do programa Bolsa Família, anunciado pela presidente Dilma Rousseff nesta terça-feira (1º), terá um impacto significativo na economia do Nordeste, região em que 40% das famílias dependem do benefício. Ao todo, 6,5 milhões de nordestinos recebem mensalmente a bolsa do governo federal (veja tabela abaixo) e serão diretamente beneficiados com o aumento.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, o programa é destinado a famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza e cobre 12,9 milhões de famílias em todo país -- com destinação mensal de R$ 1,2 bilhão. Desse total, o Nordeste fica com mais da metade -- R$ 642 milhões.
De acordo com os cálculos Cícero Péricles, do professor da Universidade Federal de Alagoas e especialista em economia popular, o reajuste anunciado pelo governo federal vai injetar R$ 130 milhões mensais a mais na economia nordestina a partir de março e R$ 1,3 bilhão até o fim de 2011.
Segundo ele, o Nordeste será a região que sentirá o maior impacto do reajuste, já que mais de 50% dos beneficiários do programa estão na região. "No Nordeste, os beneficiários do Bolsa Família são 6,5 milhões de famílias, num universo total de 16,6 milhões [segundo dados do governo federal de 2009]. Com esse aumento, o consumo reprimido desses beneficiários, como o conserto da bicicleta que estava quebrada, ou a compra daquela camisa nova, entra em cena", disse.
Para Péricles, os setores da microeconomia da região devem ser diretamente beneficiados com o reajuste, em especial a alimentação -- o que deve gerar um aumento nas compras de itens básicos dos nordestinos mais pobres.
" Esse dinheiro terá impacto relativo no setor de comércio e serviços das áreas populares, nas feiras livres, nos mercadinhos e pontos de comercialização desses itens básicos. As próximas pesquisas sobre o consumo no varejo, a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, deverão, com certeza, captar a influência desse aumento nas vendas do varejo dos estados nordestinos", afirmou.
Segunda maior fonte de renda
O economista Cícero Péricles afirma que o programa Bolsa Família é hoje a segunda fonte maior de renda dos nordestinos, atrás apenas da Previdência Social -- que cobre 7,7 milhões de pessoas na região, pagando R$ 4,9 bilhões todos os meses.
"No Nordeste, o peso combinado destes dois pagamentos mensais é muito grande. Como quase todos beneficiários do INSS têm família, pode-se dizer que, no Nordeste, 80% da população dependem desses recursos federais para tocar o cotidiano. Interessante notar que mais da metade dos pagamentos do INSS são destinados à clientela rural, que é a parte mais pobre da região. Na economia nordestina, nenhum setor produtivo, nenhum segmento -- agrícola ou industrial -- gera uma renda tão expressiva como esses pagamentos", disse.
A presidente anunciou o reajuste durante visita ao município de Irecê, no sertão da Bahia. Com o anúncio, o benefício médio passa de R$ 96 para R$ 115 já a partir deste mês. Apesar da média ficar em 19,4%, o aumento chega a até 45,5% para os benefícios pagos aos beneficiários com até 15 anos de idade. O reajuste médio foi 8,7% superior à inflação acumulada no período.
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